terça-feira, 20 de julho de 2010

La Sacra Famiglia (ou "Cenas de uma Terça-Feira"...)

O som do táxi despejava um Cauby Peixoto baixinho ao longo da praia de Copacabana. Este vosso humilde escriba estava bem vestido para uma manhã quente de terça-feira: calça khaki, camisa pólo preta, Doc Martens modelo Gibson (com bico de ferro...) e óculos escuros. Acordei às sete, pois a missa de um ano de falecimento de minha avó paterna era às nove, em uma igreja do bairro do Flamengo. Tomei um café preto e só isso. A igreja não estava cheia, o padre era estranho e os primeiros indícios de família começaram logo na saída da missa: “qual dos irmãos é você? O mais jovem ou o mais velho?”, perguntou um primo do meu pai. “Você é a cara do teu tio...”, afirmou uma tia.
Andamos lentamente em direção à casa de um dos parentes, para meu desespero. Lá chegando, à espera do elevador, o segundo bombardeio de Dresden, com o segundo despejo de bombas incendiárias:
“Quer dizer que você está namorando uma chinesinha, é?”, disse o parente risonho.
“Japonesa...”, respondi.
“Ah! Japonesinha?! Então deve ser pequenininha, né?”
“Não...”
“E os concursos públicos? Como andam?”
“Parei...”
“Parou?!”
“Parei...”
(pano rápido e silêncio na subida até o décimo andar do prédio...)
Já instalado em uma cadeira na sala, tendo em uma das mãos uma xícara de café e usando – desde as oito da manhã – os óculos escuros, junto alguma força para encarar mais uma leva de devaneios e pressões. Permaneço em silêncio e imóvel, ora mastigando uma madeleine integral, ora escutando os mais dispares assuntos nos mais diversos volumes de voz.
Assunto “viagens por este mundo de maravilhas”: os bondes de San Francisco; o maquinista que fala Português em San Francisco; os museus de “Fine Arts” (sic) de Los Angeles E San Francisco; os ingressos do Metropolitan Opera de Nova York não cobrados pelo cartão de crédito; o céu artificial de uma galeria de Las Vegas; a civilidade e a limpeza de Las Vegas; o vôo de helicóptero sobre o Gran Canyon; o brinde com champanhe dentro do Gran Canyon; a fantasia de imperador romano para criança adquirida no Caesar’s Palace (e não no Caesar’s Salad...). Sim. O “mundo” é mesmo repleto de maravilhas.
Em seguida vem o assunto “mazelas tupiniquins”, obrigatório em qualquer reunião de família; seja em almoços, comemorações de fim de ano, aniversários ou churrascarias. A “porrrrcaria” das favelas; a “meleca” das estradas cariocas; os preços exorbitantes dos produtos pirateados do Centro; o cheiro de urina dos aeroportos do país; a corrupção de nossos políticos. Enfim: “lá” é melhor que “aqui”, aparentemente. Ainda assim, permaneço na minha, caladão e de óculos escuros, planejando o resto do dia e uma ou duas eventuais monossilábicas no caso de ser interpelado por um dos presentes.
Sim, a família. Um dos sacrossantos pilares da sociedade, base de retidão moral e seio dos bons costumes. Bastião da estabilidade, coluna vertebral sã em meio ao câncer da decadência humana. Família: um palavra que deve permanecer eternamente imaculada. Contudo, queira o caro leitor crer nas palavras deste vosso humilde escriba quando lhes digo que tal tarefa se faz cada vez mais difícil quando a própria família dá claros sinais de que está, de livre e espontânea vontade, trilhando a estrada oposta aos tais nobres valores.

Temporada de Trailers (mais uma...)

2010 está passando rápido. Os trailers de filmes e documentários, contudo, abundam e prometem um segundo semestre dinâmico na telona. “Valhalla Rising”, “Red” (com Bruce Willis e grande elenco), um documentário sobre Basquiat, "Solomon Kane", entre outros. E porque diabos estou eu a tergiversar sobre trailers? Simplesmente porque meu chá preto ainda não ficou pronto...