sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Kill Whitey!!! (ou "Meus Felizes 15 Minutos de Fama com o IBGE"...)


Já passava das onze horas da manhã quando o porteiro do prédio ligou pelo interfone. Anunciava a presença do IBGE, que passava de casa em casa para anotar as informações do Censo 2010. Normalmente, eu não atenderia. Se tivesse rotweiller, soltava pelo menos um. Mas nesta campanha pessoal para apagar minha fama de ranzinza, resolvi acolher a dupla de recenseadores. Fiz um cafézinho, arrumei duas xícaras, arrumei o pote de açucar e o adoçante, posicionei as colheres de modo impecável. Em suma: dei uma de Hannibal Lecter antes de abocanhar a vítima.
Soou a estridente campainha da porta de serviço. Vestindo bermuda, camiseta e boné, atendi. Lá estava a dupla: um moço grandão, magro e com jeito de ingênuo; e sua colega, uma senhora de 50 ou 60 e poucos anos, trejeitos de boa senhora e de fiel freqüentadora da missa das sete. Ambos educados, trajando o colete do IBGE, pedindo licença, me chamando de “querido” e “jovem”, adentraram meu sacrossanto e humilde lar. Rapidamente, embalado pelo peculiar aroma de café fresquinho, ofereci uma xícara do negro líquido.
Recusaram sem papas na língua.
Ok. Sem problemas. Acontece. Nem todos aceitam.
Já instalada no sofá da sala e munida de um aparelho eletrônico contendo as perguntas, a dupla iniciou o censo. Nome. Respondi. Sexo. Masculino ou feminino? Titubeei, não por dúvida, mas, sim, pela própria obviedade da questão.
“É masculino, né?”, perguntou o mais alto.
“É...”, respondi, sorridente.
“É que não podemos induzir a resposta”, completou a senhorinha.
Situação do apartamento. É próprio? Alugado? Nome dos pais? Moram aqui ou fora? Em que país?
“No Gabão”, respondi.
“No Japão...”, murmurou o moço, escrevendo o resultado no aparelhinho.
“Não, não. Gabão, na África...”, corrigi.
“Ah...sei. Qual a sua raça?”
Ah! A fatídica pergunta! At last! A tão visada indagação! A polêmica em forma de letras! Qual a minha raça!!! Insultaria eu meus ancestrais, apagando dos anais as escapadinhas dos tempos coloniais desta território tupiniquim? Daria eu uma bofetada nos meus antepassados portugueses, franceses e gregos, mais invadidos que campo de futebol de campeonato russo? Era eu um simples branquinho de 36 anos? Um sujeito poliglota sem vínculo algum com o ufanismo reinante? Era eu uma mistura ambulante de povos? Um mulato que não gostava de sol? Um branquela cujo tom de pele não faria feio no interior do Paquistão?
Na dúvida, escolhi o caminho mais técnico:
“...Caucasiano...”
“Não tem essa opção...”, disse a senhora.
“Então é branco mesmo...”
“Salário?”
Come on. Eu posso até responder aquela baboseira de autônomo, mas prefiro dificultar. Mesmo desempregado há anos.
“Entre 2500 e 3000 reais...”
Nesse ponto, eu já divagava e mentia descaradamente. O que diabos aconteceria se eu respondesse a verdade? Ganharia uma viagem ao Nordeste? Um aperto de mão de algum presidente ou ministro? Uma noitada com a Betty Faria? Nada disso. Convenhamos: os caras nem meu café aceitaram. Após a pergunta sobre meu salário, a dupla se levantou, agradeceu (“’brigado, querido...”) e se mandou.
Cá pra nós, achei que esse Censo era mais dinâmico. Algo com perguntas do tipo “você tem uma vida sexual chegada num fetichismo de vertente européia?”, “quantas vezes assistiu ao filme Caçadores da Arca Perdida?” ou “você já fumou crack no banheiro de um avião?”. Não tinha nada disso. Foi muito sem graça, uma verdadeira perda de tempo para uma quinta-feira de agosto.
E um desperdício de café, que acabou indo pelo ralo da pia.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Pregunta (sic) da Semana

Wyclef Jean quer ser o quê?!!!...