Por incrível que pareça, aceitei o convite e estava em dúvida. Simplesmente não sabia se ia de faxineira, de tirolês, de pirata ou de "jornalista inglês vitoriano desempregado no meio da África". Esta última "fantasia" era minha maneira de homenagear os saudosos desfiles de luxo do Hotel Glória, na década de 1980, durante os quais Clóvis Bornay, Jorge Laffond e companhia eram hors-concours com seus "pavão esplêndido em noite de lua cheia às margens do Amazonas" e "Faraó dourado e suas milenares oferendas ao Deus-Sol" (ou algo assim). Aquelas, sim, eram fantasias. Fantasias que, por motivos óbvios, este vosso humilde escriba não usaria nem por decreto do finado Bon Scott.
Em todo caso, arranjar uma fantasia de última hora foi um saco. A do tirolês foi impossível (ninguém sabe o que é um tirolês em Pitboyland; muito menos no centro da cidade...); a da faxineira (50 mangos em qualquer casa de uniformes...) foi abortada ante minha timidez de homem alto e barbado; a de pirata foi torpedeada quando o vendedor da loja em Copacabana – ele, sim, vestido de pirata – disse que não vendiam fantasias , apenas se vestiam daquela maneira por uma questão de marketing. Sobrou a de jornalista.
Desde 1989-90, sou o feliz possuidor de um chapéu de expedicionário inglês datado de 1941. Trata-se do mesmo modelo utilizado pelo Major Grubert na história em quadrinhos "A Garagem Hermética", do desenhista francês Jean "Moebius" Giraud. Sem o uniforme completo, fica meio sem sentido. Mas aí você inventa uma história pra quem perguntar. Aliás, ninguém perguntou porra alguma. Até porque 90% dos convidados estavam vestidos de bruxa ou zumbi.
A música ficou a desejar. Lá pelas tantas, umas meninas colocaram numa estação de rádio de MPB, sumo-sacrilégio em se tratando de noite das bruxas. Na cozinha, mais um pecado: um dos convidados sacou um violão e começou a entoar uma Rita Lee. Se fosse no bas-fond do Haití, o sujeito já estaria devidamente impalado ao som de Ice-T. O ápice do não-entendi, entretanto, foi quando duas moçoilas vestidas de bruxa encenaram um cortejo fúnebre tocando um tambor e cantando uma canção de...MPB. Aí lascou geral, mas parece que o linchamento foi evitado por boas almas.
A organização teve de ser recauchutada, já que uma geladeira não deu conta da quantidade de cerveja trazida pelas pessoas. Muita cerveja e pouco gelo: aí já viu, né? O tanque serviu, mas a vazão não foi das melhores. Enquanto isso, eu ficava de um lado para o outro, sem conhecer quase alma viva, e suando feito um presidiário moçambicano no inferno. Pegava uns pedaços de conversa, concordava com algumas coisas, discordava de outras, e, vez ou outra, comia um pedaço de pão com alguma pastinha salgada. Pelo que entendi, algumas pessoas não haviam sido convidadas; outras foram simplesmente expulsas.
Em termos libidinosos, o nível até que não estava de todo mal, mas os papos e o teor alcóolico de meu sangue me impediam de executar maiores planos. E mais: se hippie sóbria é uma coisa, hippie bêbada é pior que um Osama bin Laden preparando seu café-da-manhã. Isso sem falar no fato de que este vosso expedicionário-escriba-jornalista-organizador-de-festas já tinha tomado sua cota de latinhas, e queria ir pra casa.
E assim foi. Peguei um táxi na Marquês de Abrantes e me pirulitei de volta para o meu bunker de frente para o Jardim de Alah.
Mas não se preocupem: em 2010, a festa vai ser melhor, mais organizada, com ótima música, desinfectada de hippies, com muita cerveja gelada e – joy of joys – DI GRÁTIS. Só não vai ser aqui em casa pois, como diz o ditado popular, "Halloween é o cacete".
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