terça-feira, 27 de julho de 2010
1993 não voltará (e isso talvez seja bom para toda a população mundial...)
Eu estava na Lapa, prestes a entrar no Teatro Odisséia, onde começaria a primeira de duas noites de um festival anual de rockabilly em Pitboyland. A rua estava interditada, e centenas – talvez milhares – de cariocas e turistas se dividiam em bandos dos mais dispares gostos. Punks ladeavam funkeiros; rockabillies passavam por entre bolos de playboys; garotões anabolizados desprovidos de camisas olhavam feio para todos.
Era noite de sexta-feira e os perigos ainda não haviam dado as caras.
Com uma lata de cerveja na mão e um olhar cansado, eu tentava alternar piadinhas sem graça, sinais de pessimismo e uma calma falsificada em algum buraco do meu ego. Encontramos um grupo de conhecidos, que logo nos chamou para entrarmos na fila. Não demorou muito para que um sujeito baixinho – cujo nome nunca foi pronunciado mas que aparentemente estava acompanhando uma das meninas – proferisse alguma inverdade a respeito de Elvis Presley; fato que soou como uma blasfêmia e que fez com que a maioria do grupo desejasse linchar o menino in loco. Houve uma tentativa de desculpas; houve um princípio de choro e mais alguns elementos que me escapam neste exato momento. O fato é que, uma hora mais tarde, lá estava o baixinho de cabeça raspada, dançando feito um debilitado mental ao som de “Wooly Booly”. Certos comportamentos são explicados pela ciência. Outras menos.
Não sei por que diabos isso acontecia, mas por momentos queria ouvir o disco do Grinderman e tomar cerveja. Weird...
A festa foi fraca, fruto de uma organização fraca. A camiseta do evento era fraca. O DJ era fraco, as bandas estavam estranhas, a acústica era ruim, e as únicas coisas que não haviam levado a noite ao fracasso mais absoluto foram a venda de camisetas no segundo andar e a boa conversa.
No 571 que nos levava de volta ao Leblon, eu pensava em como eram as coisas em 1993. Eram tempos de provações – como todos os tempos – e eu não tinha a menor idéia de como perdia oportunidades após oportunidades.
Em 1993, eu estudava no Liceu Molière, em Laranjeiras. Odiava ir às aulas de Educação Física na Praia Vermelha, gostava de alguns professores, adorava os sanduíches de frango da cantina, e fazia alguns bons amigos. Em 1993, eu morava com minha avó materna, na esquina das ruas Afrânio de Melo Franco e San Martin. Os acidentes eram semanais, a maioria ocorria à noite, resultado de bebedeira e classe social. Eu mesmo quase fui atropelado uma vez, quando um carro dirigido por um playboy passou raspando a uns dez centímetros do meu corpo (acabou atropelando uma senhora cinco metros mais adiante, que felizmente não faleceu...). Em 1993, eu já freqüentava o Empório (Ipanema), a Doctor Smith (Botafogo), a Kitchnet (Copacanaba), e o bar do Chu (ou algo assim, na Barra...). O must da política era passeata contra o Collor e camiseta do Brizola. O must dos assaltos nas ruas era o roubo de tênis importados. O must das festas era gelatina de vodca.
O meu must era, aparentemente, a masturbação.
Sim. Eu lembro de um esquema, um hábito que eu tinha quando, às vezes, voltava do Empório. A banca em frente ao prédio da minha avó costumava ficar aberta 24 horas. De dia, duas mulheres – mãe e filha – tomavam conta do lugar; mas à noite, era o chefe da família, um sujeito pardo, magro, de olhar caído. A banca, é óbvio, estava praticamente vazía no meio da madrugada. E eu aproveitava o fato para comprar revistas e filmes de sacanagem. Em 1993, certas revistas vinham com filmes em VHS (o DVD ainda estava engatinhando...), mas eu não me deixava abalar. Escolhia rapidamente uma ou duas, pagava o sujeito e me mandava, ainda bêbado, para casa.
Não demorou muito para que, assim que o dono da banca me visse, começasse a separar os melhores produtos para mim. Chegava a ser hilário: este vosso humilde escriba voltando, cambaleante e suado, do Empório, e ainda possuindo forças para escolher a melhor revista de sacanagem da prateleira enquanto o sujeito magro devorava seu jantar numa marmita ao som de sucessos da Antena Um FM.
Hoje, esta é uma arte perdida. Como aqueles diálogos entre torturado e torturador em filmes do James Bond. Os moleques de hoje só querem saber de internet. Não têm as ferramentas para diálogo cara-a-cara ou descobertas in loco. Querem algo e querem naquele exato momento, por meio de cliques e abreviações. Os contadores de vantagens ainda pululam, mas as vantagens contadas perderam o ritmo. A televisão e a rede de modas fez um estrago nas gerações nascidas nas décadas de 1980 e 1990. O que dizer da geração do Novo Milênio. Serão os zumbis de amanhã.
Parafraseando as palavras de um cara gente-boa, seria ótimo ter uma chubby-delivery, para entregar uma chubby em domicílio. Contudo, faço minhas as sábias e eternas palavras de Lemmy Kilmister: “the chase is better than the catch”...
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Eu não tenho fé em quem nasceu depois de 1980.
ResponderExcluirChubby delivery parece bom já que é obvio que o Empório não alimenta suas meninas antes de solta-las no salão, aos predadores. Mas em 2010 isso pode te levar a morte, você sabe. Existem ninjas soltas por ai e dizem que elas são letais...