segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Três Oitão na Nuca

Ah, o meu aniversário. Um turbilhão de clichês, lembranças, temores e esperanças. Um misterioso dia com algum torpor, alguns telefonemas e o cheiro de rotina que teima em pairar sobre o meu crânio.
Estaria este vosso humilde escriba ficando velho, ranzinza e chatérrimo? Estaria eu chutando o balde a caminho de algum paraíso de fraldas geriátricas, papinhas amargas e filmes vespertinos? Ou tudo isso não passa de mais um drama? Perguntas e mais perguntas que não querem calar.

Lembro (ainda) da época em que comemorava meu aniversário com direito a bolo e muitos presentes. Tinha festinha, vela no bolo, refrigerante e discos de vinil. Tinha aquela atmosfera pré-maquiavélica no fato de decidir quem convidar e quem deixar de fora. Lista VIP à la Balão Mágico, por assim dizer.

Nenhuma festinha ou evento marcou meus 38 invernos. Senti o "trezoitão" frio na nuca, ao longo das seis horas de labuta na livraria; ora atendendo ao pedido da secretária da Malu Mader; ora retirando - sem muita paciência - o plástico protetor de uma agenda Moleskine para uma cliente mais chatinha. No intervalo, comendo uma esfirra e tomando um suco de manga, mal pensei na minha nova idade. Como se adiantasse. sequer perdi meu tempo com lamúrias internas ou com o fato de poucas pessoas terem ligado (é simples: quem ligou, ligou; quem não ligou, bem, simplesmente não ligou...).

Findo meu turno, retornei à relativa paz de meu sacrossanto lar, onde, na companhia de Baby Takahashi, comi uma pizza de pepperoni e alguns cupcakes de chocolate, assistindo a trechos do show de Stevie Wonder e de um programa de decoração no canal 55.

Jerry Lee Lewis, o "killer" do rock, nasceu num 29 de setembro. Cervantes também. Assim como Les Claypool (do Primus), Brett Anderson (do Suede), Lech Walesa, o almirante Nelson, Silvio Berlusconi, Michelle Bachelet e, last but not least, László Biró, o inventor da caneta esferográfica, da qual faço uso há décadas.

Não fiz festa; tampouco convidei alguns amigos para algum bar. Em Hardcore Brasília, Zé "Black Lord" Dirceu promivia o lançamento de seu livro "Tempos de Planície". Sim, sim. Gay acima de qualquer suspeita. Pior: no restaurante Carpe Diem (mais gay ainda e muito "proletário chic", diga-se de passagem...). Dirceu já tinha filho (aliás, um "problem child" mineiro...), já publicara um "livro" (sic). Agora, só faltava plantar a árvore e esperar o dia em que a mesma crescesse o bastante para suportar a corda do enforcamento. Aparentemente, isso demoraria.

A felicidade do ex-guerrilheiro (what the hell?!...) contrastava com a tristeza da família do rapaz que peregrinara - inutilmente e desacordado - por cinco ou seis hospitais de Pitboyland, até encontrar um no alegre Méier. Para lá morrer.

Ah, esse mês de setembro. Bizarro, comme tout. Tão bizarro quanto aquela manhã em que despertei desejando que algum Lumpa Lumpa de topete servisse meu desjejum com um sorriso de orelha a orelha. Me chamando de "my liege" antes de ir à padaria comprar meu joelho de queijo com presunto. A vida, no entanto, não chegava a tal estado de beleza.

Lá estava eu, recém-empregado por uma livraria, comendo torrada com pasta de atum, bebendo Coca-Cola e assistindo - assaz de saco cheio - ao show do System of a Down, cujo vocalista, um Salsi Fufú politicamente correto demais, dava nos nervos com seus discursos e suas dancinhas. Isso foi num domingo.

A segunda-feira estava logo ali...

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