segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A Exorcista do Leblon

No prédio da minha avó, localizado na esquina da Afrânio com a San Martin, homens estão restaurando o piso de mármore do pátio interno, localizado na parte traseira do edifício. Três ou quatro homens, armados com lixadeiras especiais, martelos e cinzéis. Trabalhando por horas a fio, ao longo de uma jornada que começa às oito da manhã e que termina pouco antes da seis da tarde, com uma hora de intervalo para o almoço à 11 da manhã. Quase não conversam, e nunca cantam ou assobiam; sinal de que o trabalho é pesado, ou então arranjaram um patrão que exige certa disciplina de seus empregados (segundo minha avó, o prédio pertence aos descendentes do Médici ou do Costa e Silva...).
Dia desses, estava na casa de minha avó para o almoço. O noticiário na televisão concorria com o pandemônio da obra e o barulho dos talheres. De repente, entre o prato principal e a sobremesa, ouvimos uma sucessão de berros e reclamações proferidas por uma mesma e desesperada voz feminina.
"Pára com esse barulho!!! Pára com isso pelo amor de Deus!!! Pára agora!!!"
Saio para a varanda no intuito de verificar quem é a dona do vozeirão. Era a vizinha, histérica:
"Pára com isso já!!! Eu não agüento mais!!! Pára agora!!!"
Nada de parar. Nada de resposta por parte dos operários. Status Quo no mármore. Nisso, a vizinha sai de sua varanda e entra de volta no apartamento. Nem um minuto se passa, e ela retorna.
"Eu te amaldiçoo!!! Te amaldiçoo para sempre em nome de Deus e de Jesus Cristo!!! Maldito seja!!! Maldito seja!!!", berra ela, com um crucifixo de boas proporções endireitado na mão direita.
Sequer comi minha sobremesa.
Coisas do Leblon.
Coisas de Pitboyland.

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