Foi mesmo uma pena eu só ter uma única cerveja na geladeira; além do prossecco e da vodca, é claro. Uma cerveja gelada, entretanto, era um dos melhores ingredientes – senão o melhor – para aquela virada de ano muito diferente.
Horas antes das doze badaladas fatais, eu ainda me comportava acima de qualquer suspeita: comprei alguns produtos comestíveis no supermercado, tomei meu suco de manga grande e comi um misto quente no Natural & Sabor do Bar 20, visitei minha avó, arrumei o apartamento, desejei um ótimo 2010 ao porteiro e à sua família, telefonei para parentes, ex-namoradas e ex-esposas, joguei o lixo fora, dei uma limpa no meu quarto, e me livrei da barba mezozóica de dois meses sem remorso algum.
Lá pelo final da tarde, entretanto, sinais de mudança foram avistados. Além dos momentos do barbeiro de pacotilha, instantes de desilusão e pessimismo batiam à minha porta. Sim, eram tempos diferentes; tempos em que nem tudo dava certo para todos. Em meio aos jorros de champanhe e cidra, em meio aos tradicionais seis pulinhos de onda e às flores a Iemanjá, enchentes e deslizamentos castigavam subúrbios e pequenas cidades turísticas, deixando dezenas de mortos sem ceia, sorriso e desejos de boas entradas. Antes, durante e depois da meia-noite, não havia motivo ou clima para estar alegre: para cada pessoa que me perguntava onde eu passaria meu réveillon, eu desconversava ou inventava alguma desculpa, expondo claramente meu desconforto com o assunto.
A verdade é que passei o réveillon sozinho no apartamento, escutando a orquestra de Brian Setzer e clássicos do rock dos anos 80. Estourei, meio sem jeito, uma garrafa de Chandon, tomei um gole, e depois voltei para a cerveja. Comi castanha de cajú, azeitonas recheadas de pimentão e um sanduíche de queijo prato. Deprê? Não tanto quanto ficar soterrado em um lamaçal com os próprios pais e irmãos, sem dúvida. Bem, o resto está nos jornais e noticiários.
Entre um filme da série Rambo – o quarto, dirigido pelo próprio Stallone, e assaz interessante – e alguns programas da MEC FM, eu concluí que meus réveillons nunca seriam os mesmos; talvez por respeito a quem não possuía as condições para uma comemoração merecida. Mas talvez por estar certo de que a vida apenas continuaria.
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por isso que nao da certo dukes. sao sete pulos e nao seis. e que "suco de grande" é esse que voce tomou? hehehe
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