quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Somos Todos Filhos de Flipper

As fotos eram assaz chocante. Um grupo de jovens dinamarqueses participavam de uma (aparentemente tradicional) matança de golfinhos da espécie Calderon na Ilha de Faroe. Em meio à água rasa ensangüentada, os rapazes desferiam, sorridentes, golpes de picareta nos animais. Me deparei com as fotos na página do Facebook; foram enviadas por uma amiga que mora no Cairo e que é ferrenha no que diz respeito à luta contra injustiças e demais crimes. Irônico como sou, publiquei um comentário abaixo da foto:
"Eu conheço um dinamarquês que freqüenta o mesmo bar que eu. O sujeito é um merda que se acha o rei do pedaço. Amanhã mesmo, munido da foto acima, vou lá baixar o sarrafo no miserável. E vou fazê-lo vestido de golfinho! FLIPPER’S REVENGE!!! Beijos."
Soou meio bobo, admito. Mas foi o que me veio à cabeça aquele exato momento.
Acho a Dinamarca um país estranho. Não produz muito, mas faz questão de cantar de galo em certas questões mundiais, tais como qualidade de vida, projetos sociais, direitos humanos e combate à pobreza. Eu me pergunto se confiaria a função de alimentar uma criança de Darfur a um sujeito que enfia, alegre, uma picareta na cabeça de um golfinho. Não acho que a questão da inteligência animal tenha de vir à tona, até porque são inúmeros os casos de golfinhos que atacam humanos.
A questão, explicitada nas fotos, é a gratuidade da ação; além, é claro, da ausência de defesa por parte dos golfinhos – quero ver um dinamarquês levantar uma picareta em mar aberto...
A princípio, toda essa discussão – se discussão existe – parece infundada, frívola ou mesmo inútil. O Japão mata baleias a rodo e nem por isso queimamos nossos iPods em praça pública. Somos contra a mão-de-obra infantil, mas ficamos contentes quando ganhamos um tênis de aniversário. Certamente existe injustiça, mas contanto que não a vejamos, está tudo certo no melhor dos mundos.
O fato, entretanto, é que esse tipo de hipocrisia não raro se torna algo maior, mais perigoso e deveras descontrolado. Foi assim nas duas guerras mundiais do século passado: no começo, era apenas localizado; evento menor, beirando o irrelevante. Depois, bem, todos nós já sabemos...
Golpear golfinhos pode não ter o mesmo significado de um massacre de humanos. A raiva – e o prazer advindo dessa raiva –, porém, é a mesma. Começa tímida, mas logo extravasa e, em nome de sentimentos egoístas, adquire formas relevantes.
Dirá o leitor que sou mero defensor dos animais. Respondo que sempre serei, até porque sou eu mesmo um animal.
Nem sempre evoluído.

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