As fotos eram assaz chocante. Um grupo de jovens dinamarqueses participavam de uma (aparentemente tradicional) matança de golfinhos da espécie Calderon na Ilha de Faroe. Em meio à água rasa ensangüentada, os rapazes desferiam, sorridentes, golpes de picareta nos animais. Me deparei com as fotos na página do Facebook; foram enviadas por uma amiga que mora no Cairo e que é ferrenha no que diz respeito à luta contra injustiças e demais crimes. Irônico como sou, publiquei um comentário abaixo da foto:
"Eu conheço um dinamarquês que freqüenta o mesmo bar que eu. O sujeito é um merda que se acha o rei do pedaço. Amanhã mesmo, munido da foto acima, vou lá baixar o sarrafo no miserável. E vou fazê-lo vestido de golfinho! FLIPPER’S REVENGE!!! Beijos."
Soou meio bobo, admito. Mas foi o que me veio à cabeça aquele exato momento.
Acho a Dinamarca um país estranho. Não produz muito, mas faz questão de cantar de galo em certas questões mundiais, tais como qualidade de vida, projetos sociais, direitos humanos e combate à pobreza. Eu me pergunto se confiaria a função de alimentar uma criança de Darfur a um sujeito que enfia, alegre, uma picareta na cabeça de um golfinho. Não acho que a questão da inteligência animal tenha de vir à tona, até porque são inúmeros os casos de golfinhos que atacam humanos.
A questão, explicitada nas fotos, é a gratuidade da ação; além, é claro, da ausência de defesa por parte dos golfinhos – quero ver um dinamarquês levantar uma picareta em mar aberto...
A princípio, toda essa discussão – se discussão existe – parece infundada, frívola ou mesmo inútil. O Japão mata baleias a rodo e nem por isso queimamos nossos iPods em praça pública. Somos contra a mão-de-obra infantil, mas ficamos contentes quando ganhamos um tênis de aniversário. Certamente existe injustiça, mas contanto que não a vejamos, está tudo certo no melhor dos mundos.
O fato, entretanto, é que esse tipo de hipocrisia não raro se torna algo maior, mais perigoso e deveras descontrolado. Foi assim nas duas guerras mundiais do século passado: no começo, era apenas localizado; evento menor, beirando o irrelevante. Depois, bem, todos nós já sabemos...
Golpear golfinhos pode não ter o mesmo significado de um massacre de humanos. A raiva – e o prazer advindo dessa raiva –, porém, é a mesma. Começa tímida, mas logo extravasa e, em nome de sentimentos egoístas, adquire formas relevantes.
Dirá o leitor que sou mero defensor dos animais. Respondo que sempre serei, até porque sou eu mesmo um animal.
Nem sempre evoluído.
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