Baby Takahashi mandou uma mensagem no momento em que seleção de futebol do Japão ganhava de três a zero da Dinamarca: “...mulher com faca ameaçando homem no viaduto...”. Sim, a violência nossa de cada dia na selva de pedra de Pitboyland. Baby Takahashi rumava em direção ao alegre Méier a bordo de um 476 suspeito recheado de pobres almas alienadas pelas impiedosas garras da cidade grande.
Na condição de sabotadora-mor dos planos de Thulsa Doom, Baby Takahashi sabia que cenas de desespero como aquela permeavam o asfalto de Pitboyland. Havia certamente alguma compaixão ou pena em seu coração, mas apenas o suficiente para que ela não fosse confundida com uma calculadora de bolso. O resto era pura disciplina; concentração e sede de vingança.
Tal qual ninja de calcinha sexy, Baby Takahashi reavaliou, mentalmente, sua lista de afazeres. As prioridades eram claras:
1) Assassinar Thulsa Doom (de preferência à luz do dia...);
2) Roubar as informações de sua Central de Computadores localizada no Shopping Leblon;
3) Destruir os arquivos referentes à pessoa de Kirisoré Von Airbourne, escriba e baterista-mor da Sagrada ordem dos Vagabundos Prateados;
4) Devorar um hamburger com espinafre no Bibi;
5) Dançar um rockabilly do mal;
6) Beber água...
Feitas essas considerações, Baby Takahashi olhou novamente pela janela do 476. As charmosas fachadas de casas e sobrados de São Cristovão e adjacências acusavam o apartheid que se instalara em Pitboyland. Um reptílico sistema de elevados e perimetrais separava a pseudo-perfumada Zona Sul da crua e estoica Zona Norte. A poucos anos de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada – ambas em solo tupiniquim –, Baby Takahashi temia o pior e já imaginava o dia em que Thulsa Doom e companhia dominariam o pedaço, transformando cada ser vivo em um passivo seguidor de Jorge Vercilo, Preta Gil, Maria Rita, Monobloco e demais Cavaleiros do Apocalipse surrupiados de uma indústria alienante com combustível suficiente para funcionar a pleno vapor até o fim dos dias.
Baby Takahashi, alheia aos gritos do fundo do ônibus, sabia que devia fazer de tudo – ou quase tudo – para impedir tal cenário de desolação e dor.
“Aha! Uhu! É a rapa do salú!!!”.
Sim, os brados aumentavam lá atrás. Cada vez mais fortes, cada vez mais selvagens; como se, aos poucos, todo o 476 estivesse se tornando uma mini-ilha do Doutor Moreau movida a diesel barato, falsificado e batizado. Estava mesmo na hora de Baby Takahashi dar no pé, se pirulitar, se mandar de fininho, sair à francesa, picar a mula e ir Nelson. Com gestos precisos que faziam jus à sua descendência nipo-rockabilly, a estonteante Baby Takahashi levantou seu belo e alvo traseiro do assento, pressionou o botão de parada e começou a caminhar em direção à saída.
“Aha! Uhu! É a rapa do salú!!!”.
Os gritos de guerra mais uma vez. Seria aquela uma forma de provocação por parte dos vendedores de empada ali presentes? Uma explícita forma de demarcação do território móvel? Horas antes, Baby Takahashi havia degolado cirurgicamente um engraçadinho conhecido como Júlio Sorriso que se atrevera a apalpar as belas nádegas da ninja após listar seus pseudo-dotes de conquistador barato. Um erro fatal.
Baby Takahashi, entretanto, não estava com a menor paciência para trucidar almas ingênuas ou decapitar a semi-analfabeta oposição. Ela simplesmente esperou o ônibus parar e desceu os três degraus com seu habitual charme.
Foi então, para sua própria surpresa, que Baby Takahashi deu de cara com a enorme silhueta de Kirisoré Von Airbourne.
Damn...E agora, nigga?!!!
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